PEALO FATAL

Cyro Gavião

 

Cada vez que encilho o pingo

E, aos tentos, ato meu laço,

Sinto, no peito, um guascaço,

Ao me lembrar d’onde veio...

Oigalê!... que tombo feio

Eu dei naquele brazino:

Cumpriu-se, assim, o destino,

Certa manhã de rodeio.

 

Tinham chegado os tropeiros

Pra se apartar n’outro dia.

No galpão, muita alegria,

Causos de china e sia dona...

Corria mate e cordeona,

Alegrando toda a casa;

Pingava graxa na braza

Duma terneira mamona.

 

Na estância havia um turuna

Brazino, xucro, matreiro,

Que não havia tropeiro

Que o levasse ao matadouro...

Tinha imponência de touro

Esse filho da querência.

Mas, eu botava tenência,

Pensando naquele couro.

 

Inda a boieira no céu,

Depois de larga mateada,

Montou-se de madrugada,

Na fala do capataz:

-”Não deixem nada pra trás;

Que não escape o brazino.” -

Me disse, num repentino:

-”Confio em ti, meu rapaz.”-

 

Já se fechava o rodeio,

E foi justamente, quando

-Eu até ia rezando:

Maria, Jesus Menino-

Nesse momento, o brazino

Bufou, saiu campo fora,

E eu disse vai ser agora

Que tu me pagas, teatino.

 

Montava bem, nesse dia,

E já sai no costado.

Montava um pingo tostado

Que sempre soube o qu’eu faço...

Correndo, assim, no encalço,

Sem um minuto de perda,

Quadrei o corpo pra esquerda

E fui palmeando meu laço.

 

E desse jeito, esquinado,

Atirei de sobre-lombo.

Nem quis escutar o tombo,

Quando meu laço estirou...

“Por certo que se quebrou,

disse, ao vê-lo pataleando:

era o Rio Grande ensinando

os contos de meu avô!

 

E o laço qu’eu, hoje, trago,

Trançado a gosto e preceito,

Por Deus que carrega o jeito

Daquele guapo teatino...

Eu também tenho destino,

Mas, dele não me arreceio,

Embora seja mais feio

Que o pealo do boi brazino.