MEU CAVALO

Cyro Gavião

 

O meu cavalo picaço,

Que nunca levou um laçaço,

Nem mesmo quando potrilho,

Apartando num rodeio,

Bastava tentear no freio:

paleteava o novilho.

 

Quando chegava o domingo,

Com gosto, encilhava o pingo

Pra visitar o rincão.

Eu ia na pulperia

E o picaço parecia

Que nem pisava no chão.

 

Entrando ali no povoado,

Todo o mundo, admirado,

Namorava meu cavalo.

Por ele eu tinha carinho,

Pois meu finado padrinho

Me ofertara de regalo.

 

Crioulo lá do meu pago,

Gostava até do afago

Duma chinoca faceira.

Mais veloz do que uma seta,

Nunca houve, em cancha reta,

Quem lhe deixasse na poeira.

 

Mas, o que é bom dura pouco...

Por isso, mesmo que louco,

Ando a escutar seus relinchos.

Se fui ingrato não sei;

Matei meu pingo de lei,

Companheiro dos bochinchos.

 

Chegando a revolução,

Fizeram requisição

Para levar meu picaço...

No meio daquele apuro,

Não vacilei, eu lhe juro,

Atravanquei-lhe um balaço!