BLAU NUNES

 Cyro Gavião

 

Homenagem a J. Simões Lopes Neto,

No centenário de seu nascimento (1965).

 

- Patrício, repare bem.

Esse guasca que ai vem

Se chama Nunes,... o Blau.

É campeiraço e vaqueano,

E foi nesse mesmo zaino

Que se embretou no Jarau.

 

Antes que chegue, lhe digo,

Foi peão de tropa; um amigo

Que deixa rastro onde passa.

Cruzador de sul a norte,

Vai carregando, no porte,

A velha estirpe da raça.

 

- Buenas tardes, capataz.

- Cheguei pra diante, “no más”;

Boleie e pele seu flete;

Mais tarde diga o encargo,

Vá segurando um amargo,

Que a noite é larga e promete.

 

Foi se ajeitando o galpão:

Fogo grande, até o patrão

Com toda a benevolência.

Queria ouvir de Blau Nunes

Histórias, crimes impunes

E lendas desta querência.

 

E o velho Blau, muito a jeito,

Puxou um pigarro do peito,

Como se fosse um prefácio.

Falou de tudo, afinal:

Das Onças, do Manancial,

Da briga do Bonifácio.

 

Sempre assim, entre fazendas,

Dizendo contos e lendas,

Cruzou o Blau mil coxilhas;

Levando ao tranco do zaino,

Na rude mala de pano,

Herança dos farroupilhas.

 

Foi sempre assim esse quera,

Sombra mansa de tapera,

Onde me abrigo e me aquieto.

Que o resto a história comande,

Pois será eterno o Rio Grande,

Nos contos de Simões Neto.