UNIVERSOS

Colmar Duarte

           Alheio às conquistas espaciais,

longe  dos homens  que engenham guerras,

sabe apenas das coisas que o rodeiam

nesse seu mundo,

atrás dos aramados.

 

Conhece a oração da ramaria

que o sarandi sussurra ajoelhado,

quando por ele passa a ventania;

conhece a paz que nasce

em cada chuva

e canta em cada flor

pelas coxilhas;

sabe do sol que volta a cada dia,

como a esperança que ontem perdeu;

sabe da luz igual das três-marias,

da ternura dos bichos pelas crias,

do carinho da terra onde nasceu...

 

Sol de seu rancho...

 

Lua de seus sonhos...

 

No universo sem fim dos verdes campos,

a órbita final dos aramados.

 

            A ti que, em vez do ímpeto selvagem

do potro que se atira contra os ventos

numa ânsia animal de liberdade,

conheces o furor da espaçonave

a derrubar barreiras e mistérios,

em busca da razão e da verdade;

a ti, que és seu irmão e és astronauta,

peço que não esqueças que ela existe.

Dá-lhe um pouco do muito que alcançares

dos progressos dos homens deste tempo,

das conquistas de mundos colossais.

 

 

Talvez penses que em face do universo

um rancho e o pampa nada representam;

a paz das chuvas... a razão das flores...

a ternura dos bichos...                               a esperança que ontem morreu!