TEMPO DE VIVER

Colmar Duarte

 

 

Um dia,

Eu teria talvez uns vinte anos,

Tomei coragem e encilhei o pingo

Pra campear a sorte em outros pagos.

 

Juntei as pilchas

Como quem apaga marcas de um mapa

Riscado nas cinzas,

Traçando rumos já sem importância.

Calcei esporas

De cabeça baixa,

Rememorando outras alvoradas,

De domas, de rodeios, de tropeadas.

 

Tirei palavras

Como quem aparta

O melhor que sobrou ao fim do inverno,

E aos velhos eu falei determinado:

Era a minha sorte,

O meu destino

Que lá estava a esperar no fim da Estrada!

Necessitava andar,

Seguir os ventos,

Ser essas nuvens que passam sem pressa

Sombreando as várzeas,

Espiando os açudes

Nas tardes preguiçosas de sol quente.

 

Alguns, nascem pra umbu,

Cravam raízes

E morrem dando sombra ao mesmo cerro.

Mas eu tinha nas veias sangue andejo

em vez da seiva fria desses troncos.

 

Depois,

Como saber de sentimentos

Quem não oculta a bruma das ausências

E as distancias não turvam o olhar?

Vinte anos

A vida em florescência!

Tempo de descobrir mais de mim mesmo;

De não olhar atrás

Pois os recuerdos cabem até

Na mala - de - garupa

Que nem avulta embaixo dos pelegos.

 

A tristeza dos velhos

Por instantes

Foi a nuvem de chuva contra o sol

Que despontava na manhã serena.

 

Mas não foi suficiente para conter

O vôo da torcassa

Que em meu peito

Aleteava com olhos no horizonte.

 

Deus te abençoe!

Ouvi por despedida

Enquanto dei rédeas, sem olhar...

 

Deixei pra trás o rancho

E a minha infância

E encilhei o destino pra domar.

 

Quanto tempo passou?

Talvez nem saiba.

 

Como medir o tempo?

Pelos anos?

Pelas tristezas, pelas alegrias?

Os pingos que encilhei?

Os desenganos?

Pelos amores,

Que desvendaram e deram sentido

A essa razão maior de haver nascido

E de viver... e entender a vida?

 

Ou pelos filhos

Que embalei ao colo

Tarareando acalantos já esquecidos!

 

Talvez o tempo não possa ser medido.

 

Tempo é para viver

E ser vivido;

E a medida

É o que se faz na vida.

 

Por isso o tempo é sempre dividido.

Há tempo de brincar

De faz de conta;

Há tempo de plantar e de colher,

Tempo de florescer, tempo de amar;

Há tempo de sorrir

E de chorar...

Ou será apenas tempo de viver?

 

Viver,

Sonhar a vida que se quer!

 

Fui peregrino

A procurar sem trégua

Onde estaria escrito meu destino,

Onde me levaria a estrada real.

 

Andei, andei

Pisando descaminhos,

Sem nunca sofrenar ou dar de rédeas

Aos desenganos que tocou cinchar.

Quando se sai sem prazo de regresso

Melhor se esqueceR

O que ficou pra trás.

 

E o tempo,

Que é tão lerdo pra um moço

E parece Que nunca vai passar

O tempo corre mais em nossa ausência

Foi apagando minhas referências

E hoje

É tarde demais pra voltar!