COMO A CHUVA

Colmar Pereira Duarte

 

Cai a chuva

E vai matando a sede

Da terra, aberta em bocas ressequidas;

Serpenteando nos sulcos, dando a vida

Ao milharal curvado de sol quente.

E, ao chegar, reverdece a esperança

Das lavouyras, dos campos e da gente.

 

Chuva que ás vezes chora nos telhados

A dor dos sofrimentos já curados

Ou a fatalidade das ausências;

E vai entristecendo, enquanto passa,

A solidão...pois pinga reticências

De saudade na folha da vidraça.

 

Chuva que em outras vezes é violenta

Como um castigo, como desespero,

Nos laçaços e gritos da tormenta;

No aguaceiro que rasga como arados,

Abrindo sangas, revoltando rios,

Alagando o silêncio dos banhados.

 

Sou como a chuva.

Pois, em meu destino,

Volto sempre a ser nuvem,

Que caminha depois de aguaceiros,

Rios e cheias,

Evaporando as ilusões que tinha,

Com um sonho de mar

Em minhas veias...