PRA CEVAR O MATE, BOMBEAR A ESTRADA E SENTIR SAUDADE

Cláudio  Silveira

 

A bruma mansa,

já pairava ao parapeito das casas,

na hora em que’u cevei o mate;

Os oscos cernes lentamente,

se faziam brasas...

E essa fusão milenar

me prendia as retinas em seu “ruano braseado”,

que repontava longínquas reminiscências,

...o mate quente,

amansava a manhã lobuna...

e seu “doce amargo”,

retemperava as minhas ausências.

 

A alma que ostentou

o alcunho viver tropeiro,

hoje é caseira de si mesmo;

a velar a própria silhueta

que se tolda em meio à amplidão do galpão;

e o lume que adentra as suas frestas...

me chama à janela... e meus olhos,

“antigas testemunhas” se apresilham à estrada,

que ainda ontem, era meu “agora”,

mas que agora é o meu “ontem”...

 

A mirada saudosa,

faz da janela “moldura”

para enquadrar a imagem empoeirada

da estrada – que a tempos vejo,

mas que não percebo;

Por ela se foram meus dias de tropa,

assinalados das intempéries,

embalados por cantigas de arreios

e vislumbrados pelos cenários crioulos

dos rincões que andei.

 

Com o flete pela rédea

alisei o cambão das porteiras,

co’a meia-sola da bota

corroí a forração do estribo...

...o meu poncho castelhano

foi qual flor nas primaveras

ao se abrir no campo afora;

e de sombrero, culeiro e espora,

formatei a mais rude estampa

pelos corredores e estâncias,

rumando tropas e tropilhas

guiando sempre do cincerro da madrinha.

 

 

E ao regressar de reculuta

de minhas remembranças,

desapresilho os olhos,

que eram fitos na estrada,

enquanto sorvia silente;

...recosto-me ao pé do fogo...

viro a erva...aparto a cambona...

...solito, vivo a minha verdade.

A alma por fiel a antigos recuerdos

ganha o vezo de ruminar velharias

e de se achar peleando contra si mesmo

por esses embates de saudade,

que se chegam da estrada,

na hora em que cevo o mate.