TODOS OS VENTOS

 Carlos Omar Vilela Gomes

O coração que nos leva pulsa forte
E mostra em seu sangue porque veio...
Porque se inscreveu nestes silêncios
Que marcam suas pegadas pela areia.

 

O coração que nos leva tem recados
De um tempo que não quis ficar pra trás
E trouxe pra este tempo seus guardados,
Bebendo dos seus próprios mananciais.

 

Não é de sonhos miúdos
Que um povo molda sua argila
E redesenha seus mapas...
Não é com brisas esparsas
Que a vida mostra sua cara
E impõe sua condição.
São sonhos que surgem plenos
Com sentimentos extremos,
Com toda a fibra da alma;
Mostrando que pela história
Só se conquista a vitória
Com as armas do coração.

 

Nós somos todos os ventos
Que cumprem velho ritual
Num berço de gauchismo
Plantado no litoral.

 

Já faz um século e meio
Que nós te vimos nascer...
Tenteando os primeiros passos
De uma história a florescer.
Te vimos ganhar o mundo
Campeando luz e esperança
Porque, Conceição do Arroio,
Apesar de tantos sonhos
Ainda eras criança.

 

Os memoriais que guardamos
Em nossos itinerários
Fazem parte do inventário
Que pelo tempo somamos;
Te vimos, ano após ano,
Te vimos, dia após dia,
Escrever rumo e magia
Nesta terra em que ventamos.

 

Há cento e cinqüenta anos
Nós vimos a Freguesia
Se apartar de Santo Antônio, .
Ganhar o nome de vila.

 

O pássaro ganhou plumas
As plumas viraram asas...
E o tempo, que é ferro em brasa,
E não dá vau nem perdão,
Por certo abriu seus caminhos
E acolheu com carinho
Os teus vôos, Conceição!

 

Os anos foram passando
E tu seguiste de pé...
Somando Torres, Palmares,
Logo depois Maquiné.

 

Mudaram distritos, comarcas
Mudaram as ordens, as leis...
Provaste sangue e mortalhas
Na guerra de vinte e três.
Mas nada mudou teus sonhos
Que pealo nenhum desfez.

 

Nós lembramos, Conceição,
Quando deste o coração
Em verdadeiro ofertório!
E com as bênçãos de Deus,
Em honra de um filho teu
Te batizaram Osório!

 

Osório! Disse o mundo aos
quatro cantos,
Tão forte que sua voz ainda ecoa
Nas águas inquietas do oceano,
No espelho cristalino das lagoas.

 

Vão cento e cinqüenta anos
E nós seguimos passando...
Bailando com os cata-ventos,
Girando, sempre girando.

 

E continuamos ventando
Pelo correr dos teus dias...
Osório de tantos sonhos,
Palco de canto e poesia.
Do verde manto dos morros
Tantas asas coloridas,
Contraponteando teus vôos
Pelas lonjuras da vida!

 

Hoje os novos cata-ventos
Não são somente um girar...
São a face do futuro
Se desenhando no ar.
E quando neles chegamos
Com nosso beijo fecundo,
Geramos fontes e auroras
Pra os desafios do mundo.

 

Nós somos todos os ventos
Que cumprem velho ritual
Num berço de gauchismo
Plantado no litoral.

 

És Conceição, és Osório,
Buscando sempre crescer;
Sabendo pra onde ir
Porque sabe de onde veio;
Agora somos platéia
Pra o sopro dos teus rodeios...

 

Já faz um século e meio
Que nós te vimos nascer!