SÓ MAIS UM DIA DE CHUVA...

Bianca Bergmann

 

As nuvens cansaram de mudar...

Talvez seja porque os ventos,

Já não sopram como antes,

Ou quem sabe por que os rumos

Já não são tão atraentes

Quanto os que outrora guiavam

As bailarinas do céu!

 

As nuvens cansaram de mudar...

E a tarde ficou tão quieta,

Com mesma cor...Mesmo tudo...

E um desconsolo profundo,

Aproximou-se do mundo.

Feito algum sonho absurdo

Com prata e cinzas no olhar.

 

Na quietude dessa tarde

Senti que também mudei.

Eu que tanto procurei

Belezas nas madrugadas...

Eu que fui santo de estrada,

Rezando razões perdidas.

Me vi sozinho na vida,

Sem milagres pra contar.

 

O tempo passou por mim...

Me fez botas de cimento.

E os sagrados mandamentos,

Lhes confesso que esqueci...

 

Sem sacerdotes, nem templos...

Trago meu mundo nas costas,

Pois ao calçar minhas botas

O corpo pesou demais;

Tanto que os potros de ventos

Que eu galopava em meus sonhos,

Não suportando meu peso...

Foram pras bandas de alla,

E quando solito me vi...

Minha alma andava por lá,

Mas eu parei por aqui.

 

Sim... As nuvens cansaram de mudar...

Talvez prevendo o seu fim.

E choraram sobre mim

O seu pranto mais sangrado.

Um pranto desesperado

Sem ter alento nenhum,

De quem não sabe seu nome...

De quem só nasce e se some...

Nos confins de um céu comum!

 

Eu senti a dor do mundo

Por entre o pranto das nuvens.

E no colo das acácias

Deitaram águas tão tristes.

Águas cansadas, carentes...

Caídas de um céu vazio.

Incendiarias de tão quentes

Vindas de um ventre tão frio.

 

E as flores iam queimando

Enquanto a chuva caia.

Eu fui me desesperando...

Sufocando de agonia,

Pois não soubera prever

Que o belo também ataca...

Pois não soubera entender,

Porque a tristeza mata?

Porque nuvens assassinas,

Em infinitos de prata?

 

 Quanta dor! Quanto tormento!

As acácias sucumbindo...

Minha alma abrindo em chagas...

Nos espelhos pelo chão,

Me vi sangrando um adeus...

Feito algum santo de estrada

Desamparado por Deus.

 

Rezando razões perdidas,

Sem contas e sem milagres.

Quando uma força incontida

Num de repente me invade;

E vejo de nada adianta

Praguejar sobre os lamentos!

Não sou um pobre coitado

Noção que a vida me deu.

E no céu dos meus tormentos,

Quem sopra o vento sou eu!

 

Então inflei o meu peito

Com todo ar que podia.

E enfim chamei por meus potros,

De ventos e ventanias.

Quebrei as botas que o tempo,

Modulou sobre meus pés...

E fui tropear nuvens negras

Do alto da minha fé.

 

As nuvens cansaram de mudar...

Mas eu mudei esta tarde.

As acácias pereceram,

Mas restaram-me as sementes.

 

A tristeza ainda é fato,

Mas vejo... Foram meus atos

Que me trouxeram a dor.

Se eu não tivesse parado...

Se insistisse em andar...

Se não tivesse aceitado,

Ver o tempo me calçar,

 

Jamais veria este sonho

Com prata e cinzas no olhar!

 

Agora é reconstruir...

Redefinir... Renascer...

Deus não me deixa esquecer,

Sou forte mesmo sozinho.

Vou retomar meu caminho...

Replantar a ximbaúva

E fazer dessa tormenta...

Só mais um dia de chuva!

 

OBS:

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