TROPILHAS DE AGOSTO

                                                                               Ari pinheiro

 


Hai um quê de mistério

nestes ventos de agosto...

Chegam de sopetão

encrespando as flexilhas

e se aquerenciam

no verde da pampa

como um véu de mortalha

cobrindo as coxilhas...

 

Reviram folhagens de velhos umbus

libertando fantasmas

de antigas prisões

que se atiram de-em-pêlo

no lombo do vento

com uivos de agouros

assombrando os grotões...

 

Sim, hai um quê de nostalgia

nestes ventos...

Mil causos de ronda, mil ponchos molhados

mil berros de gado...

Mil almas que cruzam o vau da saudade

agarradas nas crinas

destes ventos gelados!!!

 

Me disse um patrício

que o gado que morre

é ração para os piquetes

de almas caudilhas.

 

Que o vento apartou

da Tropa Divina

pra deixar de posteiros

guardando as coxilhas...

 

Hai um pouco de certo

hai um pouco de lenda...

mas acima de tudo, hai os ventos

que me dobram o lombo

num pealo sinistro

mais duro que as mágoas

que trago nos tentos...

 

Arre, Hai o que matutar...

Porque será que em agosto

a garoa é tão fina

que corta-me o rosto

e me apaga o palheiro

zombando dos cortes

num carinho gelado

qual beijos sem gosto...

 

Chomico!!! Já sei o que querem

estes ventos matreiros

açoitando impiedosos

os cantos do oitão

e alargando ainda mais

as frestas do rancho

querendo apagar

o meu fogo de chão...

 

Mas lhes peço, não levem

a quincha já gasta

que nesta invernia

me serve de abrigo...

E, se não for pedir muito

me deixem o cusco

que há mais de dez anos

tropeia comigo!

 

Podem levar

da manada que tenho

a mais gorda rês

que existir no potreiro.

E da graxa amarela da ponta do peito

ofereçam holocausto

aos antigos guerreiros...

 

E digam lá que o velho...

O velho vai ficar mais um pouco

esperando criar

outra ruga no rosto

e quem sabe para o ano

numa noite de geada

ele se junte a manada

das tropilhas de agosto!