DE RUMO SEARA E CANÇÃO

Bira Anchieta / Ari Pinheiro / Luiz Carlos Ranoff

Me fiz cantor dos caminhos
amante de campos e ventos
nesta jornada comprida
segui sorvendo relentos
sem ter rumo ou pouso certo
com destino indefinido
fiz meu cerne ressequido
na tempra dos desalentos...

 

Vim da guitarra dos anos
como os antigos caudilhos
trago versos maltrapilhos
que juntei dos corredores
com eles reguei as flores
que sofriam ressequidas
p'ra elas compus canções
como toscas orações
de paz p'ras almas perdidas...

 

Meu canto tem muito de arado
de terra, sangue, amor,
é o telurismo pampeano
do taura que passa os anos
tentando enganar a dor
na sanga dos desenganos
insiste em lavar os panos
suados de seu labor...

 

Um dia veio outra gente
impondo cantos estranhos
sem a magia da sanga
que viu meu primeiro banho
não aceitei os ajojos
de quem quis me botar freio
e eu mesmos forjei os meios
de pastorear meu rebanho...

 

Este canto vem sorrindo
com ares da primavera
florindo antigas taperas
paisagens antes dormentes
galopa e lança sementes
na pampa, sua lavoura
que recebe a semeadura
no coração desta gente.