PAMPA LARGO

Arabi Rodrigues

 

Amigo, peço licença

Pra cantar minha querência!

Jardim florido e existência

No campo da humanidade.

Beleza que o sonho invade

Além do mundo consciente

Fertilizando a semente

Das gerações ancestrais,

Transmitidas pelos pais

Na juventude da gente.

 

Amidos, vejam o pampa,

Dos irmãos Lopes de Souza

Debruçados sobre a lousa,

Eternamente rezando,

Por aqueles que, peleando,

Replantaram nas coxilhas

As legendas andarilhas

De Colombo e de Cabral,

Modificando, afinal,

O marco de Tordesilhas.

 

Amigos, ouçam o pampa,

Na voz que canta e que joga

E que põe pátrias a soga,

Na penumbra das canhadas,

Enforcando madrugadas

No topete das coivaras!

Guaranis e Tapejaras

Acampados no relento

Revivem o chamamento

“KOY-OGO-KORE-KO-YARA”[1]

 

Amigos, cantem o pampa,

Do fandango, da ‘chamarra’,

Da cordeona, da guitarra,

Bochinchos e pulperia,

Das invernadas vazias

Pastoreadas pelo medo,

Sabe Deus quanto segredo

Fica guardadono fundo,

Neste pedaço de mundo

Estaquado no varzedo.

 

Amigos, vejo tambores,

Que lá no fundo retumbam,

Junto aqueles que comungam,

No para-peito da fome

Depois que tudo se some

À margem da sociedade

Ante a mão da divindade,

O fraco perde a ternura,

Não há quem pinte a figura

Dos filhos da liberdade.

 

Amigos, rezem comigo,

Antes que tudo desande!

Oh! Patrão da Estância Grande,

Tende piedade, clemência,

Dos filhos desta querência

Desprotegidos da sorte!

Tende piedade do forte

Que também sofre e padece,

Escutai a nossa prece

Nos corredores da morte.



[1] Essa terra tem dono