AMARGO

Arabi Rodrigues

 

Amigo- lá vai o mate

Que o Rio Grande te oferece:

-Água benta desta prece

Que rezo todos os dias,

Ao surgir das Três Marias,

Ponteando o clarão da lua

No bagual toldo charrua,

Casa grande dos gaudérios

De legendários mistérios

Que o tempo guarda na rua!

 

Puxa o cepo, vá sentando,

Acenda o pito na brasa

Á vontade, ta em casa.

A mágoa a gente reponta.

Por favor, não faça conta,

Deste meu traje campeiro,

O lenço, a bota, o sombreiro,

Bombacha de brim escuro

Simboliza o pelo duro,

Mescla de santo e guerreiro.

 

Tirador, de couro cru,

Mango, pistola, guaiaca,

D´espora, de poncho e faca,

Lá vai meu verso aragano,

Na garupa do minuano,

No meio da polvadeira

Leva o laço e boleadeira

Pra campeirar na querência

E dizer na minha ausência

Que pampa não tem fronteira.

 

Caramba! Que  o mundo gira,

Quando me largo cantando!

Sinto a vida propalando

Bem no fundo da minh´alma!

Uma sensação de calma,

Pastoreando meus cantares,

Cruzando terras e mares

Entre perfumes de flores,

Em busca de teus amores

Que reflete teus olhares.