ROMANCE DE PENA LARGA

Apparício Silva Rillo

 

A uns diz que foi o noivo,

a outros, que o primo foi.

Mas fosse o primo ou o noivo,

fosse o destino ou a vida

- pobre menina perdida

ninguém te salvará.

 

Olhar pisado da noite

mal amada e mal dormida

- pobre menina perdida,

tua infância onde andará?

 

Porque tão rosa, tão moça,

mocita - mas quem dirá?

No teu destino de "china"

quem vai saber da menina

que dentro de ti está?

 

- Vamos bailá, vagabunda!

Qualquer borracho te afronta,

mas desde que pague a conta

pode oferecer quanto queira.

E vais bailando a rancheira

conforme manda o compasso,

tanta leveza no passo,

no coração, quanto peso!

 

Rancho comum de andarengos

a ninguém negas pousada.

Sombra de beira de estrada

onde o que chega, sesteia.

Cacimba de água toldada

saciando até a fartura

quem não pôde em água pura

saciar a sede que tinha.

 

Mas a tua própria sede

- quem sabe, quem adivinha?