QUERO-QUERO

Apparício Silva Rillo

 

 

Nem que se passe a lo largo

Longito do retalho do banhado

Onde é teu chão.

Nem assim...

Logo ficas assanhado,

bichinho mal-educado,

quero-quero querendão!

 

Nem que se passe a lo largo,

nem assim...

Logo no mais te alvorotas

e os teus gritos lembram as notas

vivarachas de um clarim.

 

Afiado

como ferro de faca bem chairada,

teu grito repassado de insistência,

de alerta e de aflição,

acorda os velhos ecos da querência

que dormem no silêncio das taperas,

como dormem os recuerdos de outros eras

nas ruínas de certos corações.

 

Há no teu grito,

bichinho pedichão,

a ânsia insatisfeita de um pedido,

a cada novo grito repetido

e sempre sem resposta, sempre em vão!

 

Que mais tu queres, quero-quero louco?

Achas quem sabe que o que tens é pouco,

bichinho gritador?

Não basta essa fralda de coxilha

onse se aviva o verde da flechilha

na aquarela dos bibis em flor?

 

Tens o banhado,

a grama seca pra fazer o ninho,

e este horizonte largo, encoxilhado,

por onde o sol se embreta, enciumado,

quando a estrela boieira pisca o olho

pra noite que vem vindo logo ali...

 

E tens a liberdade, quero-quero,

o infinito das coxilhas rasas

sob o capricho de teu par de asas

armadas de ferrão.

 

Que mais tu queres, quero-quero triste,

que mais te falta para ser feliz?

Por que ainda neste grito insistes

se ninguém sabe o que este grito diz?

 

Parceiro,

o coração que a gente tem no peito

-não ria se eu lhe disser –

é um outro quero-quero insatisfeito

que nunca sabe o que quer...