GUAXO

Apparício Silva Rillo

 

Este oveirinho magrela que lá vai

no rumo do galpão,

não teve mãe que lhe lambesse o pêlo,

foi criado mamão.

 

Encontrei-o sem forças, certo dia,

berrando baixinho,

recostado no ventre da mãe morta

- aquela vaca barrosa, guampa-torna,

que eu ganhei do meu padrinho.

 

Le juro que não sei como escapou!

Estava "assim" de corvo e de carancho

no instante em que cheguei.

Dali no mais dei volta para o rancho

e lá ficou a barrosa sem o filho,

que eu levava comigo, no lombilho,

troteando devagar.

 

Repare só, patrício, como é triste

o manso olhar deste guaxinho oveiro!

Pois eu le digo, parceiro:

- só eu sei a razão dessa tristeza,

eu lhe entendo essa melancolia...

 

Você nunca notou que jamais meu

olhar,

- por mais que a boca ria -

consegue se alegrar?

- Eu nunca tive mãe, meu

companheiro,

fui criado mamão, como este oveiro

que acaba de passar...