GALPÃO

Apparício Silva Rillo

 

Meu tosco galpão de estância

erguido sem aparato,

aqui no mais te retrato

sem te pedir permissão;

abrigo guasca sem luxo,

lar paterno do gaúcho,

sala de estar do patrão.

 

Galpão retaco e petiço

de santa-fé desabado,

que se varre mal tapeado

uma que outra manhã;

todo pintado de graça

pelo pincel da fumaça

molhado no picumã.

 

Escola viva dos campos

onde ao tremer dos candeeiros

os velhos guascas tropeiros

vão escolando os piás,

intercalando no ensino

embretadas do destino

e encontros com boitatás.

 

Churranco feito em teu fogo

tem sabor mais apurado,

porque se entranha no assado

que devagar vai tostando,

um aroma de mel de abelha

que vem da tora vermelha

do velho angico queimando.

 

Sob as traves do teu teto

nossa gente rememora

as arrancadas de outrora

glorificadas na história;

quando, nos choques fatais

o relincho dos baguais

era o clarim das vitórias!

 

Velha caserna crioula

que avaramente resguarda

nosso soldado sem farda

da tropa da tradição;

o mesmo bravo soldado

que sustentou no passado

a ferro e fogo este chão!

 

No recesso de teu ventre

saturado de fumaça,

amalgamou-se esta raça

soberana das coxilhas,

que nos legou por herança,

escrita a ponta de lança

a história dos farroupilhas.

 

Ao calor dos carvões rubros

do fogo aceso em teu chão,

a crioula tradição

se retempera e se expande,

conservando nas histórias

as cicatrizes e as glórias

do verdadeiro Rio Grande!