DESAFIO

      Apparicio Silva Rillo

   

      Há um potro dentro de mim, pedindo cancha.

 

      Sinto-lhe o bater do coração inquieto

      como um tambor a rufar em véspera de peleia braba.

 

      No meu olhar o seu olhar de fogo se confunde

      na ânsia de devassar a vastidão de todos os caminhos

      que os seus cascos de bronze e asas não pisaram.

 

      Potro de sangue ancestral,

      telúrico em seu ímpeto selvagem,

      maior porque contido no seu lance

      como um cartucho que sente o gatilho pronto para o tiro.

 

      Tudo o que fica além de meu passo de nômade prisioneiro,

      tudo o que não alcança o meu braço de músculos dormidos,

      tudo o que meu olhar não pressente na distância

      - isso tudo a chamá-lo,

      tudo a chamá-lo

      como um toque de cincerro no silêncio da noite.

 

      Seus ouvidos de animal selvagem

      são sensíveis ao apelo da distância,

      ao apelo da noite,

      ao grito dos que rompem cancelas e aramados

      para abrir a golpes de audácia o seu caminho de aventuras.

 

      Há um potro dentro de mim, pedindo cancha...

 

      No laço de chegada,

      que fica sempre além,

      e ainda mais além,

      e sol não se põe nunca,

      para vestir de ouro os que tiveram pata

      para engolir todo o estirão da raia

      que é um desafio de léguas pela frente.

 

      Mas como custa arrebentar o laço

      do andarível de partida desta cancha!