Eu, Índio

Antônio Augusto Fagundes

Não se enganem com a casca,
Com o falar caprichado,
Com o anel de doutor.
Não.
A casca não importa. O cerne, sim.
Há um índio ancestral
- guarani, pela mãe, charrua, pelo pai -]
Dentro de mim.
Estes olhos atentos, desconfiados,
Esta pele de bronze que me cobre,
Este cheiro de mato e de capim
Isto é índio, no mais,
Porque eu sou índio,
Eu nasci índio e vou morrer assim.

 

El soldado oriental Narciso Fagundez]
Echó las ñanduceras de los ojos
A la indiacita oscura y grave
Con dibujos rituales por la cara
En una tolderia charrua em Paysandu.]
La
pidió y la llevó.
Después la bautizó
En la capilla blanca de los curas
Con el nombre cristiano y portugués de Señoriña]
Y se casó.
Ellos serán los padres
De Juan Bautista Fagundez,
Nacido oriental y luego brasileño,
Pai do meu pai - o meu avô.

 

O indiozinho veio num petiço
Acompanhando o oficial de Caçapava]
Que voltava da guerra vitorioso
Cozido de lançaços e medalhas.
Nunca disse o seu nome guarani.
Tomou o nome branco do padrinho]
- Manoel Pedroso da Silveira -
E virou peão de estância e capataz.
Che mbiá chondaro
Che aikó Chaco Paraguay py!
Dizia, com orgulho.
Roubou a única filha do patrão,
A moça Filisbina da Rosa


E fugiu para o Uruguai
Com rosa e tudo.
O índio Maneco e Filisbina
Serão os pais de Flora
A mãe da minha mãe - a minha avó.]

 

E aqui estou eu, charrua e guarani.
São charruas o chiripá e a boleadeira,]
São guaranis o pala bichará, a Lança de Sepé]
E o mate. Ah, o mate!
A essência verde da terra que é meu berço,]
Que é meu chão,
Meu limpo orgulho campeiro,
Minha fé, minha paixão.