Antônio


MEU AMOR PERTENCE À TERRA

(2º lugar 7º Bivaque da Poesia Gaúcha)

 Antônio Augusto Ferreira

 

Meu amor pertence à terra,

É o jeito como eu a quero,

É quase como um carinho,

É um amor que não termina.

Começou há tanto tempo

Que eu vivo de quero-quero,

Sentinela do caminho,

Como cumprindo uma sina.

 

É no campo que respiro,

Me refaço dos tropeços,

(muito tempo na cadeira,

que a cidade nos condena).

Mal chego ao meu retiro,

Cada coisa que conheço

Já vem, de alguma maneira,

Aliviar a minha pena.

 

Vou ao galpão dos arreios,

Lá, sim, o cheiro de cordas,

Agri-doce pela graxa,

Vai dilatar meu pulmão.

Então tiro meus aperos

E os arrasto para fora.

O seu contato relaxa

Com ternura de paixão.

 

Mexo em todos os arreios,

Até o bastinho dos netos,

Essa hora é que é a boa

Passa tudo em minha mão.

Retoco o sebo nas guascas

Pra meia hora de sol.

 

Sei que tenho uma lagoa

No lugar do coração.

O suor me tira a camisa,

E ouço que os meus cavalos

Vêm chegando numa encerra

Que temos no parapeito...

Seu cheiro vem pela brisa,

É hora de eu ir pegá-los,

São velhos pingos de guerra

Que aposentei por direito.

 

Escolho um desses velhos,

Que foi flor de montaria

É um, baio da minha cria

Que encilho sem apertar.

Aço a perna devagar,

Velhice mais desgranida

Se meteu na minha vida

Não tem mais como largar.

 

Montar mesmo, eu só consigo

Subindo em cima de um banco

E mesmo assim, me agarrando,

Veja o que ocorre comigo,

Me falta força na perna,

Só faço hoje o que eu posso,

E dou graças ao Pai Nosso

Que a cabeça ainda governa.

 

Montando num desses pingos

Tenho menos vinte anos,

Eu e meu cavalo entramos

Nesse milagre do tempo.

Um peão junta-se a nós,

E vamos ver os potrilhos,

Que as crias do meu padrilho

São como um sopre de vento.

 

Que potrada! Deus aguarde,

 Eu nunca tive potrilhos

Como esses, de ta lindos,

Grossos, fortes, mansos, vivos.

Na mangueira o peão os pega

Uma a um, para que eu veja,

E os meus olhos lacrimejam

Mas dissimulo o motivo.

 

Depois vou ver umas vacas,

Inseminadas, paridas,

Terneirada macanuda

Oriunda de cruzamentos.

Sintéticas- duas raças

São o Braford e o Canchim,

Então eu olho para dentro

Meio orgulhoso de mim.

 

O serviço neste campo

Foi tanto, que não tem conta.

Gastei meus fins-de-semana,

Como gastei meus cavalos.

Por sorte os filhos se criaram

E vieram revezar-me

E agora criam seus filhos

Com o mesmo amor ao trabalho.

 

Assim eu amo esta terra,

Puro cerro de basalto.

Mas ando muito emotivo

Desconverso a ver se passa.

Na tardinha, nada ajuda

A aquietar-me a solidão...

Uns banzos tomam de assalto

Meu coração de basalto.

 

E eu evito olhar nos olhos

Da minha eterna paixão.