ANDORINHA

Antonio Augusto Ferreira

 

Preciso descobrir qual o teu jeito,

Eu tenho de saber onde é que andas

A cada instante que te vejo

Já que tanto te mudas sem aviso.

 

De repente estás aqui, olhos acesos,

Para viver o amor como quem morre,

A vida transfugando pela boca,

E logo, logo, voando por ai

Neste sai e retorna a cada dia

Sempre diferente e sempre a mesma

Para a surpresa do amor em sobressalto.

 

Como não sofrer da insegurança

De nunca ter certeza de tua ama

Misturada na minha, confundida?

Essa andorinha não vive em cativeiro

E aprisionada não canta.

 

Mas e eu, pobre de mim, como é que fico

Instável desse amor sem garantias

Que tanto me emociona

E tanto me amedronta?

 

Assim, toma cuidado

Ao me falares de modo diferente,

Com pouco ardor e menos gravidade,

Ao me abraçares de alma destraida.

Dá-me um aviso antes,

Um sinal qualquer que me previna,

Que eu sou sensitivo pra paixão.

 

No fundo, eu adivinho o que se passa

Mas é muito difícil contornar

Essas distâncias que abres sem notar.

É que tu carregas muito mundo,

Teu universo é tão imenso

Que nem sei como o suportas

E há momentos em que estás tão dentro dele

Que não me vês

E eu sempre ando tão perto.

 

E aí que eu sofro essas angústias,

A crise de vazio que me acomete

E um medo, que já imotivado,

Mas que teima em vir atordoar-me

E povoar de fantasmas minha insônia.

 

A mim,

Não resta mais do que encolher-me

À espera do milagre

Das vezes em que chegas como um vento

E me queimas a boca com teu fogo,

E te enroscas em mim

Sem perguntar se gosto tanto e tanto.

Daí me despes

E me fazes amor

Aos golpes de paixão.

 

Depois, a tua boca desbotada

Ronrona umas palavras inaudíveis

E então te aninhas num colchão de nuvens

E partes por um sonho de alamedas

Quase sorrindo.

 

Aí é que eu libero essas pandorgas

Que fazem o meu céu mais colorido

E é aí que invento de viver

Mais uma vez.