Payada dos Chimango

 Alcy Cheuiche

CHIMANGO é gavião campeiro

da planície americana,

ave nativa que irmana,

no lenço branco altaneiro,

um partido brasileiro

que abriu picadas na História,

dividindo sua glória

com o lenço colorado,

irmãos do mesmo passado

que vive em nossa memória.

CHIMANGO é também poesia,

o livro de um payador,

versos de ódio e amor,

gauchesca rebeldia.

Umprotesto que recria,

cantada junto ao bandônio,

"a vida de um tal Antônio,

Chimango por sobrenome,

magro como o lobisomem,

mesquinho como o demônio.

 

Nos cerros de Caçapava

foi que viu a luz do dia

esta chucra confraria,

que há muito tempo sonhava

clavar a suerte na tava

da união continentina:

BRASIL irmão da ARGENTINA,

da BOLÍVIA e PARAGUAI,

irmanado ao URUGUAI e

à AMÉRICA LATINA.

 

CHIMANGOS são payadores,

dançarinos, mesnestréis.

Acima de tudo fiéis

à terra dos seus amores.

Mas voam com os condores

que passam na Cordilheira,

a montanha feiticeira

que vai unir nossa gente,

ELOS DA MESMA CORRENTE,

PÁTRIAS DA MESMA BANDEIRA.

 

ARGENTINA! Pátria amada

do grande José Hernandez.

Da Patagônia até os Andes,

a mesma terra adorada.

Milongas na madrugada

cruzando a nossa fronteira

e a DANÇA DA CHACARERA

erguendo pó nos fandangos.

Carlos Gardel e seus tangos

no rádio de cabeceira.

 

Teu nome é feito de prata,

teu nome é feito de luz.

A lança, a espada e a cruz,

que a tua História retrata.

Índios da pampa e da mata,

europeus vindos dos mares,

mesclando-se em avatares

de alma e sangue guerreiro:

El pueblo de Martín Fierro

que só ajoelha nos altares.

 

PARAGUAI das reduções

do socialismo cristão,

tua capital, Assunção,

arrebata os corações.

São lindas tuas canções,

no azul do Ipacaraí,

e o idioma guarani

conosco não tem fronteira:

bailando LA GALOPERA

llegamos cerca de ti.

 

BOLÍVIA! Das tuas alturas,

tradição Quíchua e Aimara.

Flautas feitas de taquara,

vento frio e pedra dura.

Misteriosas criaturas,

herdeiras de antigos templos

cantando amor e lamentos

na força de seus bailados.

Vestindo ponchos bordados

com as cores do firmamento.

 

Gauderiamos na cultura

das Nações do Continente,

não para ser diferentes,

mas em busca de água pura.

E a tradição que perdura,

mostrada em forma de dança,

é um bailado de esperança,

de fé e de liberdade,

unindo o campo à cidade,

num laço da mesma trança.

 

Do Forte da nossa terra,

nenhuma pedra rolou,

apenas se desgarrou

algum gaúcho na guerra.

E qual um touro que berra

no centro do seu rodeio,

o Forte ficou no meio

da cidade que se expande

testemunha do RIO GRANDE

nos tempos do pastoreio.

 

CAÇAPAVA! Terra linda

como as mulheres do pago!

Tua presença é um afago

em nossa paisagem infinda.

Voltar a ti é ainda

o que mais nos arrebata.

E se a saudade maltrata,

se dói no peito esta ausência:

VOLTA O CHIMANGO À QUERÊNCIA!

Verde Clareira da Mata.