Sonho Apenas

Alceu Wamosy

 

Sonhei: Não eras mais aquela que eu amara,
Não mais, no teu olhar, brilhava, alegre e doce,
A chama da paixão, divinamente clara,
Como se tua alma própria aquela chama fosse...

 

Não havia em teu riso essa meiguice rara,
Onde, por vezes mil, esta alma embriagou-se...
Tinha-se esfeito, Luz, tudo que eu visionara,
E as ledas ilusões que o teu amor me trouxe...

 

Eu via-te, a sorrir, no esquife, à luz dos círios,
Pálida, como um ser que o luar nevado touca,
Sob um roxo lençol de goivos e de lírios.

 

E beijava-te, então, com volúpia exaustiva,
Mas, sentindo, inda assim, no favo da tua boca,
A doçura e o calor de quando estavas vivas!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tortura - Alceu Wamosy

 

Que triste é ser-se assim, forte e descrente!
Não ter o alívio das consolações
Que vêm do pranto bom, do pranto ardente,
E do bálsamo ideal das orações!

Não poder ser igual a toda gente!
Trazer o coração, dos corações
Dos outros seres todos, diferente:
Viúvo de crenças, erno de ilusões!

E, nas horas amargas de descrença,
Quando a procela da alma ulula e cresce,
Como um terrível furacão que passa,

Ante a explosão de desespero tanto,
A boca ter fechada a prece,
Ter os olhos rebeldes para o pranto!...