SONHO DO FILHO DE UM TROPEIRO
Autor: Albeni Carmo de Oliveira
O vento soprava calmo
Naquele humilde ranchito
E lá de dentro um piazito
Contemplando o luar
Sua mãe já foi deitar
E ele solito
pensava
Que longe seu pai tropeava
E ele ali dele a esperar.
O velho tinha saído
Por força da profissão
Era tropeiro e dos bons
Por todo pago viajava
E o piazito
ali ficava
Junto com a mãe no ranchito
Até o dia em que o velhito
Pra junto deles voltava.
Mas o sonho do piazito
Que ele travava em seu ser
Era de um dia crescer
E junto com o pai tropear
Que orgulho seria andar
Com o velho, estrada a fora,
Mas enquanto não chegava a hora
Ele ali, dele a esperar.
Brincava com bois de osso
Botava a tropa em fileira
Por vezes olhava a porteira
Por onde o velho ia passar
Pois sabia que ao chegar
Em casa novamente
Lhe traria algum presente
E ele ali, dele a esperar.
Com a calma daquela noite
Tranqüilo se recolheu
Na sua infância adormeceu
Depois de muito rezar
Pois amanhã ao acordar
Bem cedinho novamente
Sua mãe diria contente
Hoje seu pai vai chegar.
Mas piazito coitado
Entregue ao seu pensamento
Não sabia que no momento
Sua vida ia mudar
Não podia imaginar
Que lá longe na estrada
comprida
Seu pai perdia a vida
Sem com ele tropear.
Pulou cedito
fez fogo
E se foi para o terreiro
Estava muito faceiro,
Esperando o pai chegar,
Pois o sonho queria realizar
De com o pai, tropear junto,
A mãe falava outro assunto
E ele ali a esperar.
Mas quando chegou a notícia
Ele pediu pra morrer
Não podia compreender
Porque Deus separou os dois
Mas alguém lhe explicou
depois
Como tudo aconteceu
E que seu velho pai morreu
Pisoteado pelos bois.
E quando chegou o corpo
Deitado sobre o caixão
Ele perdeu a razão
E desatou-se a chorar
De que me valeu esperar
Todos esse anos, meu pai,
Se hoje pro céu, tu vai
Sem contigo eu tropear.
E na hora do enterro
Na sua última despedida
Beijou o corpo sem vida
De seu pai seu grande amigo
E depois ao jazigo
Onde o corpo fica ao léo
Papai me espere no céu
Pra um dia eu tropear contigo.