SAUDADE

Albeni Carmo de Oliveira

 

A saudade é uma chinoca

Traiçoeira e sem compaixão,

Que deixa um índio no chão

Quando não leva à loucura.

É a mais triste criatura

Que se conhece na vida,

Que nos deixa com dor sem ferida

Até ir para a sepultura.

É doença que não tem cura

No corpo de algum vivente,                                                                                                                                                                                                                                                                        É algo que a gente sente

Quando se está na amargura.

 

Quem não conhece esta prenda

Não procure conhecer,

Senão, vai se arrepender

E fica muito abatido

Tristonho e desiludido

Sem vontade de viver

Aí não dá para dizer

Que está arrependido.

 

Pois esta china malvada

Não tem lar e nem idade,

É só chamada saudade

Por quem lhe conhece bem,

De qualquer lado ela vem

Não tem dia e nem hora

Chega e não vai mais embora

Passa a morar com a gente,

Quem é forte fica doente

Quem é duro sempre chora.

 

Tem gente que bebe trago

Para lhe espantar do peito,

Outros procuram um jeito

De inventar um remédio

Se fecham num triste tédio

Em um mundo diferente.

Se nota logo quando a gente

Está com a enfermidade,

E carrega-se saudade

De algo que está ausente.

 

Pois é fácil o contágio

Desta doença atrevida,

Que sempre em nossa vida

Causa um tremendo estrago,

Pois tem muito índio vago

Que às vezes morre penando

Longe da amada chorando

Ou com saudades do pago.

 

Por isso a saudade é doença

Que não se cura no más,

Ataca velho e rapaz

Sem se importar com a idade

Não adianta a vaidade

Nem dinheiro ou luxuria,

Ela acaba com a alegria

De quem ela contagiou.

Alguém já me perguntou

Sobre essa doença esquisita?

E eu respondo nesta escrita

A saudade é o que fica

Daquilo que não ficou.