MINHA HERANÇA
Albeni Carmo de Oliveira
Eu sei que nesta minha vida
De trovador campesino,
Tenho que seguir meu destino
De peão humilde e sem luxo.
Mas agüentando o repuxo
Sem nunca correr de grito,
Pois acho o verso bonito
Quando escrito bem gaúcho...
Não tem noite, não tem dia
P'ra mim
andar campereando,
E a
inspiração vou tropeando
Na invernada do peito.
Sempre com calma e com jeito
P'ra não cair do cavalo.
Mas sempre no pago falo,
Nos versos que tenho feito!
Pois estes versos bem simples
Fáceis de ser entendidos;
São como peões reunidos
Para fazer campereada,
E juntar na invernada
Letras que são bois
desgarrados.
Mas que depois de ajuntados
Ficam uma tropa formada.
E é no trançar de uma poesia
Ou no laçar de uma estrofe,
Que às vezes o poeta sofre
E se enrosca na espora.
Mas se solta sem demora
E tudo vai ajeitando,
A rima sai corcoveando
Que nem potro campo fora.
Não gosto de falsidades
Nem de peão bajulador;
E procuro dar valor
Para aquele que merece.
às vezes rezo uma prece
P'ra quem vive com maldade,
Pois quem faz a caridade
O patrão velho não esquece.
Minha alma é a caneta
Defendendo o que é da terra,
Mas nunca vou propor guerra
Pois sei o que é direito;
A tinta p'ra mim tem proveito
E o papel muito valor,
Escrevo com qualquer cor
Pois não tenho preconceito...
Minhas rimas correm o pago
Como um peão domador,
Que para muitos tem valor
Pela altivez, pelo porte,
E correm de Sul a Norte
Parando em qualquer
querência.
Mostrando sua procedência
E a fibra de um índio forte.
Não quero ganhar fortunas,
Pois não escrevo por
dinheiro,
Minha mente é um potreiro
E até onde a idéia alcança,
Tem tesouros de esperança
Que ninguém vai destruir,
E tudo o que eu construir
Deixo a vocês como herança!...