CONSERVANDO A TRADIÇÃO

Albeni Carmo de Oliveira

 

Um dia um peão já velho,

Destes curtidos dos anos,

De alegrias e desenganos

Que arrebanhou tempo a fora,

Sentia chegar a hora

Do seu último pedido

Chamou o filho querido

E disse com a voz sonora:

 

 

- Meu filho chega bem perto

Para escutar o que te digo,

Pois mais que filho és um amigo

Por isso presta atenção,

E escuta meu coração

Que te fala com certeza,

E veja quanta beleza

Que existe na tradição.

 

Tradição não é grossura

E nem vergonha p'ra gente,

Pois tu deves ter na mente

O ventre que te gerou,

O berço que te embalou

Pois não nasceu da macega,

Honre o sangue que carregas

E a raiz que tu brotou.

 

Por isso quero pedir-te

Mais que um pedido, um favor:

Que tu sempre dês valor

Para as coisas do nosso Estado,

Procuras estar ao lado

Da justiça e da razão,

Nunca esqueças a tradição

Que herdastes do teu passado.

 

Nunca deixa deturparem

As coisas aqui do pago,

Das pilchas ao mate-amargo

Ouça o que este peão te diz:

Aí ficarei feliz

Se aprenderes a lição,

Que o povo sem tradição

É um povo sem raiz.

 

Olhes bem, quando mateares

Veja que linda comunhão,

A cuia de mão em mão

Sem preconceito ou vaidade,

Traduz a simplicidade

E as tradições deste Estado,

Onde o cru e o letrado

Vivem na mesma irmandade.

 

Procures estar presente

Nos movimentos gaúchos,

E saibas agüentar o repuxo

Quando a situação exigir,

Nunca penses em trair

As causas tradicionais,

Pois a glória de ancestrais

Sempre há de ressurgir.

 

Olhe sempre ao teu redor

E veja quanta beleza,

Que a nossa mãe natureza

Te deu sem nada cobrar,

Então deves preservar

Com carinho e com afeto,

Um dia teus filhos e netos

Também irão desfrutar.

 

Por isso que te chamei

Para conversar contigo

Atendas este teu amigo

E ensina teus descendentes,

A levar sempre p'ra frente

As epopéias caudilhas,

Como fizeram os farroupilhas

Defendendo nossa gente.

 

O pouco que preservares

desta glória e galhardia,

Será de grande valia

Para futuras gerações,

Que aprenderão as lições

De práticas e de destrezas

E saberão as grandezas

Destas nossas tradições.

 

Se atenderes meu pedido

Com orgulho, raça e fé,

E manteres sempre em pé

As coisas aqui deste chão.

Aí te darei a benção

E posso até morrer sem luxo

Pois, enquanto houver um gaúcho,

Não morrerá a tradição.