A AGONIA DE UM RIO
Albeni Carmo de Oliveira
Velho
rio que certo dia
Serviu
de praia p'ra mim.
Velho
rio que está no fim
Atirado
ao abandono.
Quantas noites perco o sono
Pensando
na ingratidão,
Pois
a tal poluição
Já
te desbanca do trono.
Velho
rio que ainda reflete
O
mais lindo pôr-do-sol,
Lembro
um caniço, um anzol
E
eu pescando pintado,
Velho
rio, que no passado
Era
largo, era bonito.
Mas
que depois aos pouquitos
Foste
ficando apertado.
Velho
rio que sempre foi
Orgulho
do bom gaúcho.
Velho
rio que deu-se ao luxo
De
ver crescer ao teu lado,
A
Capital do Estado
Com
um progresso crescente
Também
vizinho de frente
Guaíba
tem prosperado.
Velho
rio, quanta saudade
Que
dor que meu peito sente.
Por
que será que esta gente
Não
pára para pensar?
Que
não dá mais para agüentar
Esta
injusta covardia,
Ao
notar que a cada dia
Alguém
manda te aterrar.
Pois
de aterro em aterro
Já
mudaram o teu leito,
E
agora querem um jeito
Para
curar a ferida
Do
propalado inseticida
Nas
lavouras aplicado,
Pois
água contaminada
Não
faz bem p'ra nossa vida.
Se
tu pudesses falar
Tu
dirias com certeza:
-
De que adianta riqueza
Para
uma cidade que cresce,
Se
a população esquece
Entre
a farra e a bebida
Que
a água fonte da vida
Aos
poucos desaparece.
É, velho Guaíba estuário,
Teus
dias estão no fim!
E
eu sinto que seja assim
Que
o velho rio vá morrer,
Pois
não posso entender
O
que será de uma comunidade
Vivendo
numa cidade
Sem
água para beber...